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Eva Wilma celebra 80 anos de vida e 60 de carreira com peça: ‘Você precisa conviver bem com as limitações’

Eva Wilma comemora 80 anos com a peça “Azul resplendor”























Quando completou 80 anos — no último dia 14 —, Eva Wilma recebeu uma mensagem de Fernanda Montenegro: “Bem-vinda ao clube. Não dói nada”. E assim, sem dor ou saudosismo, a atriz vive seu tempo da delicadeza particular, cumprindo a sina que ela previu para si, antevendo uma vida dedicada às artes: “Esperando ser brilhante minha carreira deixo aqui uma recordação do início desta”, escreveu aos 9 anos numa foto, registro da época de bailarina (imagem abaixo).
Recado que Eva Wilma escreveu aos 9 anos
Recado que Eva Wilma escreveu aos 9 anos Foto: / Divulgação
— Dediquei esse recado ao futuro. Para você ver que menininha pretensiosa — recorda Eva, posicionando-se diante do presente: — Vivi intensamente as fases dos 40, dos 50, dos 60. E faço isso aos 80. Com a idade, as coisas ficam gastas, mas é simples: você precisa conviver bem com as limitações. No começo de 2013, passei por uma cirurgia dificílima no quadril. Nos primeiros 20 dias, achei que não iria conseguir me recuperar. Mas estou aqui.
Com a perspectiva de quem se alia sempre ao lado mais doce da vida, Eva interpreta um tipo oposto na peça “Azul resplendor” (estreia quinta-feira no Teatro Sesc Ginástico). Sua personagem, Blanca Estela, uma grande dama do teatro afastada dos palcos, carrega nas costas uma montanha de mágoas.
— Eu não tenho amargura. Em 60 anos de carreira, me equilibro em meu trabalho com a mesma paixão — confirma a atriz, refutando os adjetivos que exaltam sua grandeza: — Eu não sou monstro sagrado nenhum. Prefiro desmitificar, ser eu mesma. Sempre digo que o maior prêmio é a manifestação do público. Não estou falando do aplauso, mas de quando as pessoas te reconhecem e conversam com você.
Eva Wilma em “A indomada”, um de seus grandes sucessos na TV
Eva Wilma em “A indomada”, um de seus grandes sucessos na TV Foto: / Jorge Baumann/Divulgação
Entre a garotinha que foi e a senhora que é, experiências novas surgiram encadeadas — do teste que fez com o diretor Alfred Hitchcock para o filme “Topázio” (1969) ao fato de ter dado aula de violão para a cantora Nara Leão — e preenchem uma biografia intensa. A simplicidade, no entanto, não lhe tira a singularidade. Ao contrário. Vinda de uma geração de sobreviventes — da ditadura militar, dos inúmeros problemas da profissão — Eva, a quem o avô materno chamava de Vivinha, justamente por seu ímpeto de correr atrás do que quer, sabidamente se apresenta como um porto aos atores mais jovens.
— Busco passar calma e segurança: “Está ótimo, mas não se esqueça de respirar da próxima vez” (risos). Não acho todos atores jovens deslumbrados. Há casos e casos. Grazi Massafera, por exemplo, deu sorte no “BBB”, mas tem talento e soube desenvolver — diz Eva, que, na TV, fez a primeira versão de “Mulheres de areia” (as gêmeas Ruth e Raquel), de 1973, e “A indomada” (a vilã Maria Altiva), de 1997, só para citar dois de seus trabalhos mais marcantes.
Eva Wilma ao lado de Carlos Zara, seu companheiro de vida. O ator morreu em 2002.
Eva Wilma ao lado de Carlos Zara, seu companheiro de vida. O ator morreu em 2002. Foto: Roberto faustino / Roberto faustino
Essa notável disposição não nega um ruído entre gerações. Eva navega timidamente pela internet (“me considero uma heroína por mandar um e-mail”) e, da mesma forma, se assusta com a violência do MMA e do futebol (“acompanho todos os esportes, mas não gosto da carnificina das torcidas”). A atriz, que foi casada com os atores John Herbert e Carlos Zara (com quem permaneceu até a morte dele, em 2002), também lamenta o que considera ser um desinteresse pelo casamento:
— Tenho tanta pena que o casamento esteja saindo de moda... Tenho pena que os jovens estejam na base do “ficar”. A vida a dois é um equilíbrio entre paixão e responsabilidade, e é bom passar por isso